segunda-feira, 7 de maio de 2012

A vida é linda mesmo de cabelos brancos.



Quando perdemos alguém que amamos, o sofrimento sempre acompanha a perda, não importa se esta pessoa é jovem ou velha. O destino de todos é o mesmo: a morte. A morte não escolhe idade.
Numa perda, seja qual for, vemos a vulnerabilidade da vida, e nos damos conta de que a única coisa que realmente nos pertence na vida são os momentos, e que o único final certo é a morte. Por isso envelhecer não pode ser um temor, mas uma vontade, um desejo, pois envelhecer é uma benção.

O estado constante de felicidade é utópico, somos feitos de sentimentos mistos, de alegria, tristeza, amor, dor...  Segundo Freud (1974),

 “não sendo a psicanálise uma Weltanschauung, isto é, não sendo uma “cosmovisão”, uma construção intelectual que visa solucionar todos os problemas de nossa conturbada existência, com base em uma hipótese filosófica ou supostamente científica universal, é praticamente impossível conceber um ser humano plenamente feliz.”


O que significa que estar feliz é diferente de ser feliz o tempo todo, 365 dias por ano, 24 horas por dia. Precisamos acolher os nossos sentimentos como filhos que e vem para o bem, não apenas a felicidade, mas TODOS.

Por isso, quem não teme a vida não deve temer a morte, muito menos a velhice. Envelhecer é uma benção. Para estes, que muito vivem, a morte vem como um merecido descanso.  Precisamos tentar ver a morte pelo lado bonito, de uma amiga que vem para tirar o sofrimento, a dor. Pior para quem fica, mas certamente é muitas vezes um alivio para quem vai. Como todo bom amigo, cabe a ela dar a noticia triste, mas isso não deve transforma-la na vilã da história. Ela virá para todos nós no momento certo.

Numa visão xamânica, nada esta na hora ou local errado, tudo que acontece é porque deve acontecer. O lugar certo é este lugar aonde você esta agora, lendo este texto.E quando acabar, acabou.

Viver cada dia e cada segundo como se fosse o ultimo e não temer o espelho quando ele te mostrar as rugas que indicam a proximidade da fonte, isso é vida. Cada marca de expressão é linda, pois conta uma história, conta momentos, isso é viver. A velhice é a coisa mais próxima que conheço da vida, e não da morte. Ali só tem vida, historia vividos, erros, acertos, sentimentos, sensações, sabedoria e beleza.

Escrevo este texto inspirada na minha velhice, que chegará se eu tiver a sorte e o privilégio de viver muito, de envelhecer. Com a tecnologia de hoje, em uma foto e apenas alguns toques, em segundos, podemos ter uma noção de como seremos quando ficarmos na “madura idade”.
Quando me vejo no espelho, jovem, com 23 anos, imagino que a vida é longa e que ainda tenho muito pela frente, mas a verdade é que ninguém sabe, e que a vida é agora...


Ver-me velha não me assustou, mas me deixou curiosa. Como vou me sentir? Como será olhar para o espelho e ver nas minhas marcas tudo que já ficou para trás? Como é embalar um neto? Um bisneto? Ou talvez, como a minha bisa, um tataraneto? Sim a velhice não me causa medo, me causa curiosidade, muito mais do que a morte, porque a morte como já sabemos é certa...

Para encerrar, deixo uma bela canção, e dedico esta postagem a Vendelino Bremm, um homem que viveu!




Vida de Cabelos Brancos
Nilton Ferreira

O tempo chega, e nos leva a mocidade
Revelando uma verdade, mesmo sem dizer
Que a vida vale, a dimensão de um momento
Pois desde o nascimento, começamos a morrer

Mas a experiência me mostrou outro caminho
E de mansinho sussurrou novo argumento
È possível viver, sem olha para a morte
Quando se é forte pra aceitar o próprio tempo

A vida é linda mesmo de cabelos brancos
E pra ser franco eu não lamento envelhecer (Bis)
E guardo as lembranças presenteadas por meu tempo
E busco peito adentro, mais vontade pra viver

Também eu sinto ainda que o tempo passe
Que a vida renasce e nunca perde o brilho
Feito meu pai que deixou traços marcados
No rosto iluminado, que hoje vejo no meu filho

E o meu ontem vai tão longe na distância
Mas guarda ânsias e amanhã pra me entregar
Quem sabe um verso, vivendo alem de mim
Um dia enfim meu neto pra embalar

A vida é linda mesmo de cabelos brancos
E pra ser franco eu não lamento envelhecer (Bis)
E guardo as lembranças presenteadas por meu tempo
E busco peito adentro, mais vontade pra viver


Um comentário:

  1. amei o texto, a foto e adoro a música desde a primeira vez que vi, no rodeio. espero que continuemos amigas até estarmos assim velhas e enrugadas, vendo tv no último volume e tricotando pros netos. te amo!

    ResponderExcluir